
Por: Dom Marcello Stanzione

O papa São Gregório e o papa São Zacarias vestiam roupas segundo o costume de vestimenta da classe média da cidade. A própria vestimenta litúrgica, nestes primeiros séculos, não era diferente da roupa civil. A mais antiga representação da Eucaristia, na catacumba de São Calisto, mostra-nos o celebrante trajando apenas uma túnica longa que deixa um ombro e o peito nu.
Nos séculos posteriores, a vestimenta litúrgica continua sendo a veste civil; mas se recomenda para a liturgia uma limpeza especial das roupas. Ao contrário de Roma, na França, os bispos do século V começaram a ter um vestiário diferente, não um traje luxuoso; mas para seguir o Evangelho, que recomenda que os rins sejam cingidos e que não haja posse de um manto, com isso, decidem portar um pequeno pálio. O Papa Celestino, no ano 428, os culpou de maneira violenta porque introduziram um costume contrário ao da Igreja: “se é preciso distinguir-se do povo e dos outros, conclui o Papa, que seja pela doutrina não pela vestimenta. E se é preciso seguir o Evangelho ao pé da letra, por que não segurar um cajado e uma lanterna acesa na mão?”.
Neste sentido, é interessante notar que o uso da mitra episcopal é desconhecida antes do século nono. Foram as invasões bárbaras que criaram uma revolução na vestimenta que influenciou também a veste clerical. Enquanto a antiga civilização permaneceu fiel à veste longa, os invasores da Alemanha portavam uma veste curta e aberta que deixava os membros livres. Igualmente, Carlos Magno não usou mais que duas vezes na vida a túnica romana longa e, quando o fez, foi por ordem expressa de dois Papas, escandalizados com uma moda considerada indecente e progressista.
No período merovíngio, no século XII, a vestimenta curta torna-se universalmente utilizada, é composta de calças curtas (uma espécie de cueca), de uma túnica com comprimento acima dos joelhos, com mangas e presa na cintura por um cinto e de um manto aberto sobre o ombro. Somente o rei, pelo menos a partir de Capeti, pode usar uma túnica longa no estilo dos imperadores bizantinos.

A partir do V século é imposta uma nota distintiva para os clérigos: o corte curto dos cabelos. Entre os alemães, os nobres possuíam cabelos longos. Daí, vários concílios impuseram aos clérigos o estilo curto, ao molde antigo. A partir do século VI se introduz lentamente o corte (que seria melhor se fosse chamado: o barbeado), imitando os monges que não possuem uma pequena coroa de cabelo ao redor do crânio. Neste corte de estilo monacal encontramos facilmente um sentido simbólico: o diadema do sacerdócio real.
Os clérigos foram muitas vezes dispensados do seu uso, por isso os concílios retornaram frequentemente nesta obrigação. Somente a partir do século XVI, o pequeno corte ou mesmo a tonsura no topo da cabeça, substitui a coroa para os diocesanos e para os clérigos regulares. Retornando ao hábito, sabemos que no século XII, temos de novo uma inversão na moda: a partir do ano 1140, provavelmente imitando o Oriente, através da mediação do reinado normando da Silícia, a capa, bem como a túnica longa retornam à moda por parte do povo e se espalha num luxo inédito lançando um decretando contra os trajes de mangas longas, os trajes quebrados, a seda, as peles preciosas e também a cores brilhantes, como o vermelho e o verde.
Os cardeais, como uma instituição que surge por volta do século XI, começaram a usar no século XIII, pelo menos para o chapéu, o roxo violeta, sinal imperial reservado ao Santo Padre e aos seus legados. O roxo violeta se tornará, lentamente, a cor do atual hábito solene de cerimônia dos bispos.
No século XIV, houve uma nova virada da moda: o povo retornou às vestes curtas e com um corte ajustado ao corpo que criou escândalo entre as pessoas da Igreja, que as consideraram imorais e ridículas.

Os concílios dos séculos XIV e XV prescreveram para o clero o hábito longo e fechado de todos os lados. O Concílio de Trento (Sessão XIV, Decreto sobre a reforma, cân. VI) expressa de maneira sóbria o espírito da Igreja da Contrarreforma: “Embora o hábito não faça o monge, é todavia necessário que os clérigos portem sempre o hábito conforme o seu próprio estado, de modo que as vestes exteriores manifestem a honestidade interior dos costumes. Hoje, por outro lado, a temeridade e o desprezo pela religião, da parte de alguns, foi tão longe que, sem estima alguma pela própria honra e pela própria dignidade clerical, usam vestes de leigos, até publicamente, tendo os pés sobre campos diversos: um nas coisas divinas e outro nas coisas carnais”.
Diácono Valney
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