Muitos
de nós católicos vivemos cobrando santidade dos padres e freiras, mas não temos
o mesmo rigor diante do espelho. Temos o vício de esperar tudo dos religiosos,
e ser relaxados com a nossa própria responsabilidade cristã.Se
um padre não lidera e convoca os leigos para determinada ação pastoral, o povo
não se move, não cria ou assume nenhuma iniciativa missionária. Por isso, com
amor, o Papa Francisco andou puxando a orelha de seus filhos:
“Acreditamos que o Batismo é suficiente para
evangelizar? Ou
esperamos que o padre peça, que o bispo peça? Mas e nós?”
“A graça do Batismo está um pouco fechada e nós estamos
endurecidos pelos nossos pensamentos, pelas nossas coisas. Ou às vezes
pensamos: ‘Não, nós somos cristãos; eu recebi o Batismo, a Crisma, fiz a primeira comunhão,
ou seja, o documento de identidade está em dia’. E agora você dorme tranquilo:
você é
cristão. Mas onde está
a força do Espírito Santo que faz você seguir em frente?“
“É
necessário ser fiéis
ao Espírito para anunciar Jesus com a nossa vida, com o nosso
testemunho e com as nossas palavras”.
“Quando
fazemos isso, a Igreja se torna uma Igreja Mãe que gera filhos, filhos e
filhos, para que nós, filhos da Igreja, levemos isso. Mas quando não o fazemos, a Igreja não se
torna Mãe, e sim Igreja babá, que nina a
criança para dormir. É uma Igreja dormente. Pensemos em nosso Batismo, na
responsabilidade do nosso Batismo.”
Que
mensagem simples e brilhante! Nós somos batizados, e isso nos basta para
colocar fogo no mundo, com a força do Espírito Santo. Precisamos acordar para
aquilo que, segundo Cardeal Herranz, foi a
coisa mais importante do Concílio Vaticano II: a chamada
universal à santidade e ao apostolado.
Os leigos não só podem, como devem ser santos e
missionários. Para
nos ajudar a assumir essa responsabilidade, é que nasceram os movimentos
eclesiais: grupos de fiéis leigos que se unem para se ajudarem mutuamente a ser
santos e a anunciar o Evangelho no mundo.
E
essa ação missionária apostolado não se restringe à paróquia, mas se entende a
todos os ambientes onde o cristão está – na escola, na universidade, no
trabalho, no ambientes de lazer… Muitos padres e bispos fazem parte de algum
movimento, mas esses grupos permanecem essencialmente leigos. Nos
movimentos, os católicos recebem uma formação espiritual e doutrinal contínua,
quebrando aquela ideia relaxada de “ah, eu já fiz a catequese, já fui crismado,
agora já aprendi tudo o que deveria ter aprendido como católico”. Alguns
movimentos têm suas principais características descritas em um documento
oficial (estatuto), e alguns deles são aprovados pelo Papa.
No
Brasil, o movimento mais conhecido e mais popular é a Renovação Carismática. E
a partir da RCC surgiram outros movimentos, como a Canção Nova e a Comunidade
Shalom.Há
outros movimentos que muitos de vocês já ouviram falar, ou mesmo fazem parte:
Neocatecumenato, Comunhão e Libertação, Opus Dei, Focolares, Regnun Christi… A
Igreja espera que todos eles anunciem o mesmo Cristo, a mesma doutrina, mas
respeita o “jeitinho” (carisma) de cada um.
Nenhum
católico deve necessariamente integrar qualquer movimento. Mas acho – eu acho –
que todos deveriam ter, no mínimo, a curiosidade de conhecer algum desses
grupos. Afinal, marchando juntos, como um exército bem treinado e disciplinado,
somos mais fortes e unidos.Antigamente,
a formação espiritual comunitária e contínua, pautada em determinado carisma,
era acessível quase que somente aos religiosos. Aos poucos, as ordens religiosas
abriram espaço para os leigos, e nasceram assim as “ordens terceiras” (Ordem
Terceira Franciscana, Ordem Terceira Dominicana etc.). Para
responder às demandas e desafios da sociedade atual, o Espírito Santo suscitou
os movimentos eclesiais, trazendo novas formas de evangelização (ainda que,
eventualmente, determinados aspectos de alguns movimentos precisem ser
aperfeiçoados ou corrigidos). Essa era a opinião do Beato João Paulo II,
que os incentivou fortemente. E o Papa
eméritoBento XVI,
em seus tempos de cardeal, disse:
“Para
mim, pessoalmente, foi maravilhosa a primeira vez que entrei em contato mais
estreito com alguns movimentos, como o Caminho Neocatecumental, Comunhão e
Libertação e o Movimento dos Focolares, experimentando o entusiasmo com que
eles viviam a fé e, movidos pela alegria desta fé, sentiam a necessidade de
comunicar aos outros aquilo que receberam como um dom”.*
O Papa Francisco,
por sua vez, é bastante próximo do Movimento Comunhão e Libertação, e já andou por exemplo, mandando um recado especial para os membros da RCC: “Diga a eles que eu os amo
muito”.
* RATZINGER, Joseph. Movimentos eclesiais; uma reflexão teológica sobre o seu lugar na Igreja. Discurso no Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais: Roma, 27 a 29 de maio de 1998.
Diácono Valney
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